sexta-feira, 25 de abril de 2008

O Vôo das Baratas Tontas



Retransmito texto de Beni Borja, compositor, produtor e guru do selo carioca Psicotrônica (www.psicotronica.com.br). São sábias palavras sobre o que poderá (ou não) ocorrer com as atuais e diversas mídias existentes e, conseqüentemente, com o futuro-da-música-como-nós-a-fisicamente-conhecemos.

O Vôo das Baratas Tontas

Caros,

Em meados de 2007, eu escrevi um despretensioso textículo com o título "O natal de 2007 - A fronteira final" (http://www.diariomusical.blogspot.com/), e me surpreendi com a sua repercussão. O ACM "do bem", Antonio Carlos Miguel, publicou-o no seu blog no Globo Online, e uma série de outros blogs fez referência a ele. Não era preciso ser nenhuma "Mãe Diná" para prever que o natal de 2007 seria o canto do cisne da indústria musical como a costumávamos conhecer.

É reconfortante verificar que o meu problema dos últimos anos - como sobreviver de música sem vender discos - finalmente ocupa a mente dos que dirigem as grandes corporações da indústria. No exterior, este começo de 2008 tem sido marcado por ações descoordenadas das grandes gravadoras, numa verdadeira revoada de baratas tontas. Uma avalanche de novas iniciativas no meio digital - música por assinatura, celular com música, música com mp3-player, música com propaganda, tentam convencer o ressabiado consumidor de música na internet a fazer negócio com uma indústria que, até poucos meses atrás, o tinha como inimigo declarado.

Na cirurgia plástica para dar uma cara "user-friendly" aos mercadores de fonogramas, a EMI deu um belo golpe ao contratar o CIO (Chief-Information Officer) do Google, Doug Merril, para comandar suas ações digitais. O cara já está milionário, gosta de música e resolveu assumir o risco de mudar de mocinho para bandido do capitalismo. O futuro dirá se ele vai conseguir fazer alguma coisa de útil, mas suas primeiras declarações foram muito interessantes. Perguntado sobre como a sua experiência no Google poderia ser útil nesse conturbado cenário da industria musical, ele disse que a principal coisa que ele aprendeu no Google que iria servir nessa situação era "seguir os dados". A tese dele, que faz muito sentido, é que num ambiente de mudanças constantes de hábitos, como o da Internet, não há como precisar o que vai funcionar, todas as iniciativas partem de um mero palpite sobre o comportamento das pessoas. Portanto é preciso experimentar de tudo e "seguir os dados” fornecidos pelos interação com o público, e aperfeiçoar constantemente os serviços oferecidos.

Realmente, a capacidade de rapidíssima adaptação das demandas dos usuários é uma característica comum a todos os negócios que dão certo no mundo digital. Essa flexibilidade, em função da demanda dos consumidores, foi tudo o que não aconteceu até agora por parte das gravadoras, que tentaram inutilmente adequar o consumidor ao seu modelo de negócio, ao invés de se ajustar às expectativas do cliente.

Aproveito a deixa de Mr. Merril para aposentar meus poderes extra-sensoriais de vidência. Minha clarevidência micada me obriga a rever a minha profecia de que os CDs iriam sobreviver com preço baixo, e dando meu braço a torcer, admito que provavelmente estavam certos os que previram a pura e simples extinção do disquinho prateado como produto comercial. Portanto, reconheço que não tenho a menor idéia, e custo a crer que alguém tenha mais do que uma intuição sobre qual modelo de comercialização de música digital vai cair no gosto dos consumidores. Se tudo se encaminha para um desfecho ainda imprevisível lá nas bandas do norte-maravilha, o que o destino reservará para nós da Brazucolândia? Nesta terra, onde os infelizes varejistas de música digital ainda estão amarrados ao formato-mico WMA com DRM, incompatível com IPod, o que se pode esperar do futuro próximo? Se aqui a comercialização de música digital anda, por enquanto, a passos de formiga, o outro vértice da mudança na música, a mídia, anda no mesmo passo apressado de outros cantos mais "desenvolvidos" (detesto esse termo).

A proliferação de uma nova e redentora instituição nacional, as "lan-houses", permitiu que o tenebroso futuro de uma divisão digital da sociedade, previsto por colegas futurólogos equivocados, não passasse de uma ameaça tão fajuta como o "bug" do milênio. Jovens de todas as idades e níveis de renda têm, indistintamente, acesso a mensagens instantâneas e a redes de relacionamento social. Por todo canto se vê gente de todo tipo com headphones no ouvido. A base instalada de banda larga cresce vertiginosamente, a penetração dos celulares é maciça, ou seja, a base instalada de futuros consumidores de música digital já está aí, e eles já estão descobrindo música pela Internet todos os dias.

Portanto, sigo fiel à minha promessa de abandonar a futurologia, quando diviso nos horizontes de 2008 o início do começo de um novo modelo de negócio de música. Os blogs como principal fonte de formação de opinião musical , os discos por download direto do artista, as redes de relacionamento como instrumento de agrupação de músicos, todas essas coisas estão acontecendo agora, e não são mais visões de um futuro possível. É difícil singrar pelos mares nunca dantes navegados dessa tempestade de informação, por isso escrevo esse e-mail-provocação esperando respostas. Respostas sobre a experiência pessoal de vocês, caros amigos, no surfe dessa onda... O que dá certo? O que é perda de tempo? Quem faz diferença? Prometo solenemente editar as respostas e dividir com todos , para que possamos aprender juntos.

um abraço,

Beni Borja”
(www.myspace.com/beniborja)
Sim, isso tudo tem ligação com o próximo post que pretendo escrever.