segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Noé Klabin adere à campanha



Continuando nossa cruzada “Diga Não às Bandas-Cover”, resposta do cantor e compositor carioca Noé Klabin (http://www.myspace.com/noeklabin) ao post sobre as nefastas bandas repetidoras de notas:

“Gostei tanto do seu artigo "Bandas-Cover e a Não-Formação de Platéia" que tive que escrever uma resposta para ele. Tenho que, antes de mais nada, agradecer a manifestação dessa idéia que eu concordo com todas as letras. Aqui vai: "Ufa! Muito obrigado. Graças a Deus tem alguém do meu lado!". Eu luto por essa idéia já há algum tempo e é difícil encontrar alguém que me apóie... Já tive que brigar com integrantes da minha banda, com familiares, amigos, até donos de casas de show e empresários musicais por causa desse assunto. Quando me pedem pra colocar hits no meu show eu sempre digo, ”eu não sou banda-cover e também não sou vitrola. Tenho minhas composições, meus arranjos, minhas letras, é isso que eu faço, e quero que me assista apenas quem curti o meu som, e não o do Djavan (Quero deixar claro que eu adoro o Djavan, mas quando ele mesmo canta Djavan, até hoje eu nunca ouvi outra pessoa fazer melhor...)”.

Antes de continuar meu argumento, acho bom esclarecer a respeito de duas categorias de músicos, os instrumentistas-compositores, e os instrumentistas-não-compositores. Respeito ambos da mesa forma. Porém um músico não-compositor tem que tocar composições dos outros, não é verdade? Isso não o diminui como músico, ele pode ser um grande intérprete. Existem músicos-não-compositores incríveis por aí tocando violões em bares... Claro que podem cantar músicas novas, pouco conhecidas (a Cássia Eller e a Elis Regina são ótimos exemplos de intérpretes maravilhosas que faziam isso), mas tudo bem... estão perdoados! Eu pediria apenas que eles fizessem umas versões um pouco mais originais daquelas músicas que já estamos cansados de ouvir. Agora, em relação aos músicos-compositores, queremos suas novidades! O mercado está carente de novas composições! Estou cansado de ligar o rádio e ouvir as mesmas canções desde que sou criança. Isso só vai mudar quando os compositores não se renderem, quando eles não engavetarem, e sim apresentarem e lutarem por suas criações! Aí me respondem, "mas não é o que o público quer ouvir..." Você já tentou? Eles não cantam junto? Mas é claro que não cantam junto, é nova! Eles (o público) precisam de um tempo pra memorizar, mas alguém tem que tocar elas pra eles poderem memorizar, alguém tem que lutar por elas um pouco.

Entendo perfeitamente a situação do mercado de shows no Brasil (pois sofro com ela), que assim como você colocou no artigo, os músicos precisam trabalhar, e as casas noturnas querem hits... Muitos músicos-compositores por necessidade financeira acabam se “prostituindo”, tocando covers clássicos, mas eles pagam o preço (enxergando ou não), pois com raras exceções (Celebrare por exemplo, que construiu um público gigante), a banda-cover não forma público. Existem bandas-cover dedicadas a fazerem imitações perfeitas de bandas famosas (como Dave Mathew-Cover, Pink-Floyd-Cover, Beatles-Cover), eu acho interessante essa idéia quando os integrantes são fãs alucinados dessas bandas, mas particularmente, por melhor que sejam, eu não as valorizo como artistas, devido à falta de criatividade, posso valorizá-las pela qualidade e pela técnica. Acho legal para o instrumentista-compositor a idéia de fazer um tributo a um outro músico que admire, tocando uma série de canções, mas sempre sendo original nos arranjos, e sempre inserindo as de sua própria autoria no repertório...

No meu caso, que sou músico-compositor, eu não faço mais do que quatro covers em um show, podem até implorar! E os poucos que faço, são arranjos completamente diferentes das versões originais. Quer ouvir Lulu Santos, Djavan, Caetano? Porque veio então no show do Noé? Eu tenho o meu próprio trabalho e vou lutar por ele. Tenho dificuldade para encontrar casas de show que estão dispostas a colocar um artista novo que não é conhecido, lutei muito por isso, ganhei várias vezes, mas me rendi no final. Não... Eu não toquei cover no final. No fim, eu parei de tocar nas casas noturnas e passei a lutar de outra forma pelas minhas criações. Gravei um CD e estou na luta para distribuir minhas músicas em rádios, sites de músicas, e todas as formas acessíveis que eu conseguir para colocar o meu trabalho no ouvido do povo. Se a minha tática der certo, quem sabe um dia eu entro em um bar, e terá um cara tocando um Noé–cover...

Enfim, só queria dividir a minha opinião com você, achei muito boa a sua expressão dessa idéia, principalmente como crítica aos bares e casas noturnas que, como uma máfia, impedem o crescimento cultural-musical do país, impedindo que coisas novas apareçam. Em relação aos músicos-compositores que se rendem ao cover, coitados, mas acho que é compreensível, pois eles têm que pagar o aluguel no fim do mês e por isso acabam guardando suas próprias composições na gaveta, esperando um milagre acontecer e, em suas palavras “acabam tocando Djavan em um violão de nylon ligado em uma mesa de som de última categoria com som de taquara rachada”."
Noé Klabin

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Sabará e os Neo-Folkies





Agora é moda. Tocar um violão-folk solitário e tristonho, e se dizer, hum, “folk”. Se tocar harmônica, melhor ainda. Se cantar qualquer-coisa-em-inglês, é tudo. Mas tem que ser bonito/bonita. Senão não for, esqueça. Vá para os bastidores. Acenda uma vela. Bastou uma cantora-jovem fazer certo sucesso, em um ambiente em que o “sucesso” é cada vez mais raro, e a palavra “folk” virou arroz-de-festa, papagaio-de-pirata, flamengo-encontra-mangueira, a música-da-vez. Pena. Alguns desses novos-folkies talvez nem tenham ouvido falar de Woody Guthrie. Nem mesmo do novo (10 anos é novo, sim. Maldito mundo descartável) e fenomenal ábum
http://www.woodyguthrie.org/merchandise/mermaidavenuevol1.htm
mas isso não tem mesmo importância. Os violões dos novos-folkies-brasileiros nunca vão matar nenhum fascista. O que, no final das contas, pode ser até mesmo uma boa idéia, caso essa atitude seja considerada em termos literais. Nunca se sabe até que ponto vai a loucura. Loucura só funciona se o sujeito for o Raul Seixas. Fascista no Brasil tem outro nome, e causa danos maiores que os italianos-adeptos dos anos 30. Esqueçam o sentido original. Alguns até trabalham aqui perto. Nunca entendi muito bem porque eles sempre precisam “visitar as bases”. Chega. Preciso ouvir My Back Pages urgentemente, para deixar de falar besteira.

Da nova série “Dicas do Música Folk!”, um blog totalmente fora de moda, o cantor Sabará mostra que não está nem aí para a nova “tendência”, já prevista pela vidente Rita Lee em termos, digamos, mais amplos. Sabará não é um Neo-Folk.

Cantor, instrumentista e compositor do Rio de Janeiro, Sabará iniciou sua carreira artística em 1997 com a música “Amanhecer”, apresentada no Festival de Música da Universidade Gama Filho (RJ). Em 1999, a canção “Mais perto da luz” (parceria com o guitarrista Dida Mello) foi premiada no concurso “Rio Jovem Artista”, promovido pela Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Entre 1999 e 2005, Sabará foi baterista de bandas e de musicais de teatro. Nesse período, estudou bateria com Christiano Galvão (músico de Jorge Vercillo, Marina e Zélia Duncan). O foco nas composições próprias foi retomado em 2005, quando Sabará produziu e gravou seu primeiro EP, “Prá Fazer Bagunça”. Em 2006, depois de ouvir o EP, o produtor Christiaan Oyens (que trabalhou com Lulu Santos, Adriana Calcanhoto e Zélia Duncan) aceitou o convite de Sabará para dirigir as gravações do seu primeiro álbum completo, o homônimo “Sabará”. Em 2008, lançou simultaneamente seu álbum, com dez canções inéditas (liberadas para audição e download nos sites MySpace e PalcoMP3); e os videoclipes das canções “Sabará” e “Afastaria”, no canal “sabaranarede” do YouTube.

Aqui, as centenas de lugares onde ele pode ser encontrado:

http://palcomp3.cifraclub.terra.com.br/
www.myspace.com/sabaranarede (ouça e veja fotos)
www.palcomp3.com.br/sabaranarede (baixe as músicas)
www.youtube.com/user/sabaranarede (assista clipes em alta definição)
www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=66298937 (comunidade ORKUT)
www.sabaranarede.blogspot.com


HERMÉTICO
(Sabará)

Como as unhas que faltam aos dedos
Talhando encostas de rochedos
Arranho sem romper
A casca dura do viver

E o meu viver não é mais meu
não é mais

Como a pena que a brisa espera
Se entrega prÁ fugir da terra
A vela que tinha forma
O mofo que o sol transforma

Quis você me tornar seu
me tornar.... Hermético

eu só quero o seu cheiro
Exausto de vagar
só não canso do seu mundo
Não tenho onde ficar
Não tenho o que temer
Nem raiva consigo ter
Se estou longe de você

Como o santo que aguarda a prece
O enfermo que no chão padece
Socorro não aparece
Não pararia se viesse

Pois no meu peito bate mais um
sempre mais.... Hermético

eu só quero o seu cheiro
Exausto de vagar
só não canso do seu mundo
Não tenho onde ficar
Não tenho o que temer
Nem raiva consigo ter
Se estou longe de você

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bandas-Cover e a Não-Formação de Platéia



Não tem nada mais insuportável em termos musicais do que um violão de nylon tocando Djavan, ligado em uma mesa de som de última categoria com som de taquara rachada. (Pronto, falei. Maldade. Músicos da noite, atirem as pedras). Ou talvez tenha: as bandas-cover que infestam a noite de Brasília (do Brasil?). Já ouvi vários músicos dizerem que precisam “ganhar a vida”. Concordo plenamente, aceito, mas isso não me faz gostar nem um pouco mais desses nefastos grupamentos de instrumentistas. Nada contra bandas com três ou quatro covers no repertório, mas - tudo??? É preguiça demais. A questão básica e indiscutível é que elas retiram o espaço de quem faz música própria, de quem compõe ou canta música de compositores inéditos, e isso é um crime sem perdão. Quem já chegou ao bar/pub X, e viu na entrada a placa com o nome da banda Y, e escrito em baixo: “pop-rock”? O protótipo do complemento infeliz. "Banda de pop-rock" é um termo reducionista bastante utilizado hoje em dia e significa, ao ser traduzido, algo como "banda cover insuportável".

Situação utópica: se não existissem esses seres pouco pretensiosos, os donos de casas noturnas poderiam: a) tocar música mecânica; b) contratar músicos/bandas com trabalho autoral. A opção a) atende a várias ocasiões, principalmente se o DJ for bom. E é bem melhor que um violão de nylon tocando Djavan, ligado em uma mesa de som de última categoria com som de taquara rachada. Ou um grupamento de instrumentistas tocando Satisfaction e se dizendo “banda de pop-rock”. A opção B) é a que eu quero, a que me faz sair de casa, mesmo com a vigência da infeliz e ditatorial lei. Vocês sabem qual.

O Brasil não é o país do rock. Nem do samba, nem da bossa nova. O Brasil é o país do cover. Os freqüentadores da noite acostumaram-se a isso. Já cheguei a ouvir - pasmem - o pedido de autorização de um músico, feito à platéia, para “tocar uma composição própria”. É demais. Pelo menos a platéia deixou. Ou talvez não tenha falado nada. Fazendo uma comparação um tanto inusitada - porque os bares de Londres e Nova Iorque não são assim? (exceto uns 10%, vamos ser justos) – por que o público aceita, já se acostumou, querem ver coisas novas, novos sons, novas idéias. Eles não querem um violão de aço tocando James Blunt, ligado em uma mesa de som de última categoria com som de taquara rachada (bem, talvez essa última parte sobre qualidade sonora não ocorra lá). Nem um grupamento de instrumentistas tocando Satisfaction e se dizendo “pop-rock band”.

Para completar o linchamento aos seres repetidores de notas, mais um fato: a existência de bandas-cover leva à não-formação de platéia. Com a ocupação predatória de bares e boites, sobram poucos espaços para bandas autorais, e assim os freqüentadores não assistem às suas apresentações, não conhecem suas músicas, e com isso não fazem a menor questão de ir a um próximo show da banda, ouvir sua nova música e baixar ou comprar seu novo CD-Demo (ainda existe isso?). Bandas-cover são genéricas, tanto faz quem toca, o que importa é onde ela toca. São como as pilastras do pub, fazem parte da paisagem. Ninguém vai a algum lugar para assistir ao show de uma pilastra-cantante. Vai porque quer tomar cerveja, ou coisa melhor. E o pobre amigo-da-vez, como fica? Tem que ouvir - sóbrio ??? Lei estúpida e cruel.

Músicos que tocam em bandas-cover e possuem também seu trabalho autoral, em outra banda, dão um tiro na própria pedaleira. É a necessidade de “capitalização”, segundo dizem. Mas esse é um raciocínio simplista e leva o músico a se contentar – como sempre – com muito, muito pouco. Muitas vezes é a única saída, mas é também uma Road to Nowhere, pobre, razoavelmente segura apesar dos buracos, e absolutamente não criativa.

Mudando de assunto: afinal, Lobão é ou não é o Mangabeira Unger do rock’n’roll ?