quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bandas-Cover e a Não-Formação de Platéia



Não tem nada mais insuportável em termos musicais do que um violão de nylon tocando Djavan, ligado em uma mesa de som de última categoria com som de taquara rachada. (Pronto, falei. Maldade. Músicos da noite, atirem as pedras). Ou talvez tenha: as bandas-cover que infestam a noite de Brasília (do Brasil?). Já ouvi vários músicos dizerem que precisam “ganhar a vida”. Concordo plenamente, aceito, mas isso não me faz gostar nem um pouco mais desses nefastos grupamentos de instrumentistas. Nada contra bandas com três ou quatro covers no repertório, mas - tudo??? É preguiça demais. A questão básica e indiscutível é que elas retiram o espaço de quem faz música própria, de quem compõe ou canta música de compositores inéditos, e isso é um crime sem perdão. Quem já chegou ao bar/pub X, e viu na entrada a placa com o nome da banda Y, e escrito em baixo: “pop-rock”? O protótipo do complemento infeliz. "Banda de pop-rock" é um termo reducionista bastante utilizado hoje em dia e significa, ao ser traduzido, algo como "banda cover insuportável".

Situação utópica: se não existissem esses seres pouco pretensiosos, os donos de casas noturnas poderiam: a) tocar música mecânica; b) contratar músicos/bandas com trabalho autoral. A opção a) atende a várias ocasiões, principalmente se o DJ for bom. E é bem melhor que um violão de nylon tocando Djavan, ligado em uma mesa de som de última categoria com som de taquara rachada. Ou um grupamento de instrumentistas tocando Satisfaction e se dizendo “banda de pop-rock”. A opção B) é a que eu quero, a que me faz sair de casa, mesmo com a vigência da infeliz e ditatorial lei. Vocês sabem qual.

O Brasil não é o país do rock. Nem do samba, nem da bossa nova. O Brasil é o país do cover. Os freqüentadores da noite acostumaram-se a isso. Já cheguei a ouvir - pasmem - o pedido de autorização de um músico, feito à platéia, para “tocar uma composição própria”. É demais. Pelo menos a platéia deixou. Ou talvez não tenha falado nada. Fazendo uma comparação um tanto inusitada - porque os bares de Londres e Nova Iorque não são assim? (exceto uns 10%, vamos ser justos) – por que o público aceita, já se acostumou, querem ver coisas novas, novos sons, novas idéias. Eles não querem um violão de aço tocando James Blunt, ligado em uma mesa de som de última categoria com som de taquara rachada (bem, talvez essa última parte sobre qualidade sonora não ocorra lá). Nem um grupamento de instrumentistas tocando Satisfaction e se dizendo “pop-rock band”.

Para completar o linchamento aos seres repetidores de notas, mais um fato: a existência de bandas-cover leva à não-formação de platéia. Com a ocupação predatória de bares e boites, sobram poucos espaços para bandas autorais, e assim os freqüentadores não assistem às suas apresentações, não conhecem suas músicas, e com isso não fazem a menor questão de ir a um próximo show da banda, ouvir sua nova música e baixar ou comprar seu novo CD-Demo (ainda existe isso?). Bandas-cover são genéricas, tanto faz quem toca, o que importa é onde ela toca. São como as pilastras do pub, fazem parte da paisagem. Ninguém vai a algum lugar para assistir ao show de uma pilastra-cantante. Vai porque quer tomar cerveja, ou coisa melhor. E o pobre amigo-da-vez, como fica? Tem que ouvir - sóbrio ??? Lei estúpida e cruel.

Músicos que tocam em bandas-cover e possuem também seu trabalho autoral, em outra banda, dão um tiro na própria pedaleira. É a necessidade de “capitalização”, segundo dizem. Mas esse é um raciocínio simplista e leva o músico a se contentar – como sempre – com muito, muito pouco. Muitas vezes é a única saída, mas é também uma Road to Nowhere, pobre, razoavelmente segura apesar dos buracos, e absolutamente não criativa.

Mudando de assunto: afinal, Lobão é ou não é o Mangabeira Unger do rock’n’roll ?